Wednesday, January 24, 2007

Crítica de um texto

Fui alertado para um texto de Jorge Miranda defendendo o "não", que supostamente estaria muito bem construído, e, ainda que tendo reservas sobre o que me disseram porque o Professor de Direito Constitucional não apresenta os seus melhores argumentos em qualquer circunstância que interfira com as ideias e interesses da igreja católica (vide a posição no mínimo curiosa que tem sobre o conteúdo dos preceitos constitucionais relativos à educação e ao ensino), li o texto assim que pude. E sobre o que está lá escrito tenho os seguintes comentários a fazer:

1. Se a IVG provoca traumas (o que se é certo que PODE acontecer não é certo que aconteça), é apenas e só um problema da mulher que a pratica, e não é assunto com relevância para o Estado. Essa possibilidade será certamente tida em linha de conta por quem tomar essa difícil decisão.

2. Não vou discutir se a IVG traduz desigualdades económicas e sociais. O que é um facto é que ninguém sabe em que elementos se sustenta Jorge Miranda para dizer que agrava desigualdades económicas e sociais. Para além disso, flagelo social não é de certeza porque não tem efeitos sobre terceiros.

3. O consumo de droga não é um flagelo social. A toxicodependência essa sim. Bem como a prostituição também não o é, desde que praticada por quem em real liberdade o entenda. O tráfico de seres humanos esse sim, é flagelo social.
E mesmo quanto à toxicodependência não me choca rigorosamente nada que ela seja considerada apenas um problema de cada um, e que eventuais actos criminosos a ela associados sejam tratados como devam ser: como puro e simples caso de polícia.~

4. Em qualquer caso, já percebi que Jorge Miranda provavelmente defende o ridículo modelo sueco ultra-repressivo quanto ao consumo de droga, e a ainda mais idiota (e de inspiração clara no feminismo mais radical) criminalização da procura de serviços de prostituição.

5. A atitude de esquerda e de progresso só pode ser uma: ser justo. Quer isso passe pela transformação da realidade, quer não. Quer isso se consubstancie na defesa dos mais pobres, ou dos mais ricos. Etc. E ser justo passa necessariamente por não punir quem decide fazer um aborto e por permitir a quem tome essa difícil decisão fazê-lo em certificadas condições de saúde e de higiene.

6. E o que está em causa não é se existe vida ou não. Isso nenhum referendo pode determinar, por razões que são mais que óbvias. O sentido da pergunta é claríssimo: se a mulher que aborta deve ser ou não punida, e se não sendo punida deve poder interromper a gravidez, repito, em certificadas condições de saúde e de higiene.

7. Dizer que combater as causas reais do aborto só é possível com uma modificação profunda das estruturas da sociedade e do estatuto jurídico do homem e da mulher é pura e simplesmente não concretizar um argumento. E não sabemos quais modificações profundas Jorge Miranda defende. Temo pelo pior, considerando a defesa intransigente que repetidamente faz das quotas de género.

8. Argumentar com o carácter insubstituível de todo o ser humano antes e depois do nascimento só tem um significado possível: que Jorge Miranda opta decididamente pelo feto considerando que a mulher que o pratica deve ser punida. E que tem por consequência manter o flagelo social (esse sim) do aborto clandestino. É que ser de esquerda implica combater realidades injustas. E esse flagelo, cujas vítimas são mulheres com menos posses, está a ser devidamente combatido com um voto SIM.

9. Não vale a pena tentar jogar com palavras e dizer que interrupção é um eufemismo para cessação. De facto, a palavra está em sentido jurídico, veja-se por exemplo a interrupção da prescrição, pela qual os prazos de prescrição voltam a contar do zero a partir daí.

10. Entrar na lengalenga de que é liberalização e não despenalização e que esta última seria a solução equivale a defender que se deveria manter o aspecto punitivo, designadamente através de contra-ordenações. Isso implica condescender com o aborto clandestino.

11. A lei actualmente em vigor foi uma solução de compromisso, abandonando-se o fundamentalismo católico ao salvaguardarem-se as situações verdadeiramente gritantes. A única ponderação que lhe está subjacente é essa e mais nenhuma.

12. A questão da eventual menoridade da mulher é uma questão de âmbito legislativo eventualmente discutível. Mas posteriormente. Não afecta a questão essencial.

13. Quem teve a ideia de inventar a argumentação supostamente a favor do SIM com base no direito ao desenvolvimento da personalidade ou no respeito pelo projecto de vida não devia estar bom da cabeça, decididamente. O que preclude a análise dos argumentos apresentados em contrário, com uma excepção: quando fala em relações que provocam a concepção e em responsabilidade na condução da vida sexual está muito claramente a demonstrar as ideias ultra-conservadoras que tem relativamente ao assunto, com a visão do sexo como algo de pecaminoso.

14. Como já atrás disse, o Estado autorizar estabelecimentos de saúde a praticar abortos é pura e simplesmente decorrência das exigências mais básicas de saúde e higiene públicas e de combate ao aborto clandestino. Nada tem a ver com o direito ao planeamento familiar.

15. Se admitir que não é crime praticar a interrupção voluntária da gravidez por opção da mulher dentro de estabelecimento de saúde legalmente autorizado redunda em legalizar, logo temos que concluir, a contrario, que Jorge Miranda, ao contrário do que atrás diz, defende que deva continuar a ser crime.

16. O Tribunal Constitucional não considerou a pergunta do referendo inconstitucional. E é quem na ordem jurídica portuguesa tinha competência para o fazer.

17. A questão do local só pode servir para iludir. Também, por exemplo, conduzir sem para tal se estar devidamente habilitado é crime, e só entidades devidamente reconhecidas podem proceder à habilitação. Conduzir habilitado por entidade não reconhecida é crime.

18. É um facto que o aborto é consequência da falta de instrução, de planeamento familiar, de emprego, de salário, de que a protecção da maternidade e paternidade que existe é a possível dentro dos recursos disponíveis, e não pode ser superior. Mais uma razão para não se punir quem o pratica, isto para não falar das devidas condições de saúde e higiene.

19. Mas a visão pecaminosa do sexo volta à carga. O aborto é consequência das "taras da sociedade" e da "comercialização do sexo". Cá temos o ultramontanismo no seu melhor: "não têm nada que abortar, é bem feita não tivessem estado na pouca-vergonha". Ou acha que alguém vai abortar como método anticoncepcional ? Isso é a mesma coisa que dizer que quem aborta fá-lo com gosto ou indiferença, o que no máximo dos máximos será coisa raríssima.

20. Dispensa-se a cantilena moralista da civilização materialista, individualismo e consumismo. É materialista quem quer, individualista quem quer, e consumista quem quer. Cada um é livre de tomar as suas opções, as quais dizem apenas respeito a si próprio na sua esfera privada.

21. A garantia de acesso a uma rede nacional de creches nada tem a ver com o assunto. E, aliás, assenta num esquecimento quanto ao esforço repetidamente feito pelos governos socialistas no aumento da rede pública de ensino pré-escolar. E, mais que isso, é algo de muito estranho vindo de quem vem, pois que Jorge Miranda tem defendido sistematicamente uma lógica de rede descentralizada que inclua os privados na rede pública...

22. Nunca li nenhum texto de Jorge Miranda onde defendesse medidas concretas sobre adequação do trabalho dos pais e das mães. Para além disso, o parágrafo final é demagógico: como constitucionalista, sabe melhor que eu que a realização dos direitos económicos, sociais e culturais depende no seu essencial das condições económicas e sociais, o que é totalmente diferente do que está em causa no referendo. E, repita-se, o Tribunal Constitucional não considerou inconstitucional o conteúdo da pergunta.

20 Comments:

Anonymous Anonymous said...

O que está na moda é ser-se liberal, inovador e irresponsável, o aborto não é uma causa mas antes uma consequência da progressiva desresponsabilização da sociedade, nos nossos dias existe bastante informação para que as pessoas saibam que os bebes não vem de cegonhas e os meios contraceptivos são do conhecimento de qualquer um. Mesmo no caso do rompimento de um preservativo existe a pílula do dia seguinte que é GRATUITA. Obviamente que é mais fácil provocar abortos que criar condições sociais que favoreçam a natalidade tais como fornecer jardins de infância a preços competitivos e colocar apoios para quem realmente precisa, acredito que esta "moda" nos venha a causar sérios dissabores numa perspectiva mais lata que o fim do mês, lamento que tantos jovens não tenham capacidade de pensar num horizonte mais lato, mas o mundo não é perfeito...

4:18 AM  
Anonymous Anonymous said...

parabéns pelo blogue, que gostei francamente!

Votem em consciência no dia 11 de Setembro (perdão, Fevereiro).

http://anti-aborto.blogspot.com/

4:34 AM  
Anonymous Anonymous said...

É realmente triste ler o texto do Exm. Senhor Justino e mais triste ainda é observar que ele està convicto daquilo que afirma!
Saiba caro amigo que o aborto não é "liberal", "inovador" ou ainda "irrespondável", é tragico, doloroso, e acredite que nenhuma mulher o faz de animo leve!
Saiba tambem que o aborto é tão velho como a homosexualidade, desde que o mundo é mundo que existem obortos. Moda? Duvido!
Portanto, abandonar uma criança num contentor ou na sanita de uma casa de banho publica não é "uma consequência da progressiva desresponsabilização da sociedade" enquanto que um aborto o é!
Diz tambem (e passo a citar) que "nos nossos dias existe bastante informação" pois, informação essa que em muitos dos casos não é dada pelas proprias familias (jà para não falar do nosso ensino).
Noto uma coisa, em todos os casos de gravidez o sexo masculino estava presente (como é obvio), em 3/4 dos casos de abortos, a mulher estava sozinha...
Grande numero dos abortos feitos em Portugal são frutos de aventuras temporárias, o que nos leva a acreditar que as crianças, se a gravidez fosse levada a termo, não seriam reconhecidas pelo pai (faz ideia do numero de crianças que nascem todos os anos de pai aninomo?) ou seriam pontapiadas entre o pai e a mãe todos os fins de semana (suponho que não desconhece os efeitos emocionais que isso pode causar).
Digo e repito:"quem mais opina é quem não tem vagina"!!!

1:31 PM  
Anonymous Anonymous said...

Sou a favor do Sim neste referendo e concordei com a generalidade dos comentários aqui apresentados. Mas não é sobre o referendo que vou falar. É que fiquei bastante surpreendida com uma referência do autor no ponto 4 que destoa com o resto das suas opiniões. Refiro-me ao facto de o autor considerar absurdo criminalizar a 'procura de serviços de prostituição' sendo compreendido na sua opinião apenas quando motivado por um feminismo radical. Não me chocaria nada que a prostituição fosse descriminalizada, mas não sendo, porque diabo é que deve ser penalizado quem vende mas não quem compra sexo? Afinal se não houvesse procura não haveria oferta. Por isso parecer-me-ia muito justo que assim fosse. Feminismo talvez, considerando que as mulheres estão sobre-representadas entre profissionais de sexo, mas porquê idiota e radical?

11:03 AM  
Blogger Pedro Sá said...

Simples minha cara Isabel:

Porque a lógica subjacente à criminalização de quem procura serviços de prostituição (e nenhuma para quem a pratica) é que a prostituição é decorrência de uma sociedade machista e patriarcal e elas são todas umas coitadinhas e os clientes são todos uns abusadores, digamos que a prostituição é considerada violência de género.

Uma conversa com um dos meus camaradas suecos deixá-la-ia certamente estupefacta...

1:05 PM  
Anonymous Anonymous said...

Porque não começarem realmente a ser pelo sim, em vez de apenas contra o não? Queremos ideias concretas, factos construtivos e bem fundamentados e não uma permanente tentativa de critica, que às tantas já se torna ridicula.

1:42 PM  
Anonymous Anonymous said...

Esclareça-me uma questão: no ponto 1, fala-nos de que a possibilidade de traumas "será certamente tida em linha de conta por quem tomar essa difícil decisão" e não diz respeito ao Estado. Por que não coloca no saco dos traumas, a possibilidade de julgamento ou de morte por falta de higiene/condições, resultantes de um aborto clandestino? Afinal, isso também "será certamente tida em linha de conta por quem tomar essa difícil decisão"...

12:19 PM  
Anonymous Anonymous said...

"não têm nada que abortar, é bem feita não tivessem estado na pouca-vergonha"

As pessoas que andaram na "pouca-vergonha" são castigados, é verdade, mas esta pergunta é para os do "não":
QUE INTERESSA À CRIANÇA SE OS PAIS A FIZERAM SEM MÉTODOS CONTRACEPTIVOS NENHUNS?
Estamos a falar de uma criança, não deve JAMAIS ser encarada como um castigo ou um preço para os pais pagarem pelos seus erros e irresponsabilidades.
Querem enviar ao mundo uma criança, para os pais assumirem a responsabilidade, pelo seu erro, que não conseguem?

1:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Não, passo_de_gigante. Mas, no meio desta história toda, quem tem menos culpa desse erro é a criança e é quem será mais prejudicada se a decisão de abortar for tomada.

Por que é que os pais não conseguem?, essa é a questão! Falta de recursos? Falta de disponibilidade? São estudantes? O Estado deve tomar as suas providências em cada caso, para que os "pais que não conseguem", passem a conseguir.

De qualquer modo, há sempre outras alternativas: nunca ouviu falar em adopção? O problema das esperas também se põem pela hesitação dos pais adoptivos, mas se estiverem convictos, a criança arranjará uns pais que a amem e desejem num instante.

http://souafavordavida.blogspot.com

3:06 AM  
Anonymous Anonymous said...

Vou votar "sim", mas queria, quer o "sim" ou o "não" ganhem, mais apoio aos pais, mais educação sexual e maior divulgação dos métodos contraceptivos.

Está enraizado na mente das pessoas que, com o "sim", tudo isso irá acabar. Não, não vai acabar.
Se o SIM ganhar, deve-se continuar a evitar o aborto. Mas agora lutar contra algo ÀS CLARAS.

8:02 AM  
Blogger David Sanguinetti said...

Caro amigo,

Depreendo pela sua selecção de críticas que o sr. ainda não conhece uma história que os pais mais responsáveis e que a conhecem costumam contar aos seus filhos:

«Três pescadores tinham saído para a faina. O barco era pequeno, e em pleno alto-mar, um deles decide pular, saltar, rodopiar; e o barco abanava a cada pulo. Imediatamente, os outros dois replicaram:
-- Tem lá calminha meu menino que a nossa vida também está em perigo!»

Como moral, concluímos que todo o mal que praticamos afecta directa ou indirectamente os outros.
Acrescento eu: Nem que seja pela mais simples alteração de humor.

Parece-me a mim que matar a criança que se traz no ventre -- também tratada como Filho --, provoque algo mais do que uma "simples alteração de humor".

Não concorda?

E se o seu filho andar no mundo da droga? O meu caro amigo, por uma questão de coerência, certamente que não o admoestará, dado este ser «livre de tomar as suas opções, as quais dizem apenas respeito a si próprio na sua esfera privada.». Quem diz drogas, diz prostitutas.
Hajam então drogas, e hajam prostitutas, porque só vai lá quem quer.

Suponhamos então que nem drogas, nem prostitutas existiam. Não haveria então espaço na sociedade para drogados, nem para traficantes; nem para relações plenamente carnais e instrumentalizadas entre seres humanos, nem para os que traficam mulheres, infelizmente despojadas da sua dignidade, reduzidas à carne de que é feito o seu corpo.

Uma sociedade sem isto? Parece-me bem... A mim e a imensas e cada vez mais pessoas.

Então que fazer? Lutar contra; ou liberalizar juridicamente?


Melhores Cumprimentos,
David Sanguinetti

4:15 PM  
Blogger Pedro Sá said...

UI este último comentário e o ataque cerrado que faz ao sexo pelo sexo...esclarecedor, de facto.

1:33 AM  
Blogger MCA said...

Ainda não li o tão falado artigo do Prof. Jorge Miranda por isso não posso comentá-lo. Mas li este comentário a esse artigo, por Pedro Sá, no blogue do Sim, e é esse que vou comentar:

1. Os problemas das mulheres que abortam clandestinamente devem ser um assunto de relevância para o Estado (eu acho que sim, que devem) mas os traumas causados pelo aborto já são só um problema da mulher que o pratica?!? Estranha lógica e chocante falta de solidariedade.

2. Não sei em que é que se sustenta o Prof. Jorge Miranda para dizer que a IVG agrava desigualdades económicas e sociais. Mas parece-me óbvio que sim. Quem pode sustentar os filhos, tem filhos. Quem não pode, aborta. Isto não é uma forma de desigualdade? É justo que uma pessoa se veja forçada a abortar porque não tem meios económicos para sustentar um filho? Quanto a não ter efeitos sobre terceiros... bom, já não há paciência! Read my lips: um feto é um ser humano. Hu-ma-no. Não sou eu que o digo. É a ciência médica.

3. Quanto ao consumo de droga, está de tal forma ligado à toxicodependência que não consigo perceber a diferença. São indissociáveis. Quanto à prostituição, concordo. Mas choca-me, sim, que a toxicodependência seja considerada um problema de cada um. A toxicodependência tem causas muito complexas e a maioria dos toxicodependentes são, de algum modo, arrastados para essa situação por várias circunstâncias. Não digo que sejam vítimas mas ninguém se coloca naquela situação voluntária e conscientemente.

4. Para comentar teria de ler o texto.

5. Bom, também não creio que o Prof. Jorge Miranda queira ter uma atitude de esquerda. Mas não concordo. Pelo contrário, uma atitude de esquerda deveria ser sempre a favor do direito à vida e pela eliminação das causas sociais do aborto. Quanto a isso recomendo a leitura deste texto de Norberto Bobbio e também faz sentido o artigo de Jacinto Lucas Pires A esquerda e o aborto.

6. Pelo contrário, é só isso que está em causa. Mais nada. Se um embrião de 8 semanas ou um feto de 10 não são vida humana, não há lugar a discussão tal como não se discute o direito a tirar um tumor ou um sinal. O sentido da pergunta não é esse. Já expliquei isso aqui e, infelizmente, não consigo explicar melhor. Mas já imensa gente explicou, melhor do que eu. Será preciso fazer um desenho? Pode-se ser contra ou a favor do aborto às 5, às 10, às 20 ou às 40 semanas. Mas não se pode escamotear a verdade: um embrião é vida humana, é um ser humano. Os seus direitos são discutíveis? São. Tudo é discutível - a pena de morte é discutível, a eutanásia é discutível - mas os termos da discussão têm de ser claros!

7. Também não posso comentar sem conhecer o texto.

8. Não conheço os argumentos do Prof. Jorge Miranda mas não me parece que haja uma relação directa e unívoca entre «argumentar com o carácter insubstituível de todo o ser humano antes e depois do nascimento» e considerar «que a mulher que o pratica deve ser punida». Não vejo o que tem uma coisa a ver com a outra. Um ilícito pode não ser punido e continuar a ser ilícito. Uma coisa não implica a outra.

9. Jogar com palavras é confundir despenalização, legalização e liberalização. Isso sim, é jogar com palavras. Como bibliotecária, se tivesse que indexar um texto sobre o tema, nunca poderia considerar estes termos equivalentes. Isso é uma questão técnica e disso eu percebo.

10. Primeiro, não é lengalenga. Chamar lengalenga a um argumento contrário é típico de quem não tem argumento; é o «vai tu» dos miúdos. Despenalização sem liberalização significa introduzir na lei uma cláusula que despenalize a grávida mantendo a punição para os restantes agentes do aborto. Não é difícil de perceber, acho eu...

11. Concordo. Mas não lhe chamaria fundamentalismo católico. Os católicos têm o direito à sua mundivisão sem terem de ser adjectivados pejorativamente. O que não há é o direito de o Estado impor, por via da lei, uma munidivisão de base religiosa.

12. Precisaria de ler o texto para comentar.

13. Responsabilidade na condução da vida sexual é uma visão ultra-conservadora?!? E responsabilidade na educação dos filhos? E responsabilidade na condução de um automóvel? E responsabilidade, ponto final? Responsabilidade é uma das consequências e um dos factores da liberdade. É próprio das sociedades modernas, livres e democráticas. Responsabilidade significa agir com conhecimento e assumir as consequências dos actos. Isto não é conservador. É inteligente e é adulto.

14. Obviamente, se partirmos do princípio de que o aborto deve ser legalizado. A questão é se o aborto é uma forma de planeamento familiar.

15. Obviamente. Não sei se o Prof. Jorge Miranda se contradiz neste ponto mas, obviamente, a lógica é essa.

16. O Tribunal Constitucional decidiu dentro das suas competências e temos de aceitar essa decisão. Mas o TC não é dono da verdade. Pode haver (e há) constitucionalistas que considerem que o TC decidiu mal, inclusive juízes do próprio TC. Não esquecer que a pergunta "passou" por um voto.

17. Concordo. A questão do local deveria ser secundária. Se abortar até às 10 semanas deixa de ser crime, isso deveria ser extensível à grávida que aborta em casa. À grávida, não ao médico ou parteira. Isso é prática ilegal de medicina e, obviamente, é crime. Mas recorrer a um médico ou a uma parteira não licenciados não deveria ser crime. Se eu andar num carro conduzido por alguém sem carta de condução, não sou criminosa. Quando muito serei cúmplice...

18. Claro. É isso que a maioria do "Não" defende. Não punir a grávida que pratica o aborto. Despenalizar a grávida. Só a grávida.

19. Bom, teria de ler o texto. Claro que não concordo com essa visão.

20. Voltamos à mesma questão. Não está em causa a conduta individual. Não estão em causa «opções as quais dizem apenas respeito a si próprio na sua esfera privada». Está em causa a vida de um ser humano. Outro. Não o próprio.

21. Teria de ler o texto para comentar.

22. Idem.

(In: A biblioteca de Jacinto)

5:39 AM  
Anonymous Anonymous said...

mca, subscrevo.

6:27 AM  
Anonymous Anonymous said...

O blog que promove o exercício de cidadania e o confronto de opiniões. Para estar a par dos pontos de vista e contribuir com o seu ,visite o blog do momento.

Neste blog informamos e formamos opiniões. Veja as opiniões de gente conhecida e de gente anónima!!
Visite :
http://pormirandela.blogs.sapo.pt

Se quiser enviar a sua opinião para ser ali publicada envie o seu texto para: pormirandela@hotmail.com com os seguintes dados: nome, localidade, idade. se deseja que a sua foto esteja colocada junto da sua opinião envie-nos.
Obrigado!!

11:00 AM  
Blogger Unknown said...

Eu também sou do SIM...
mas com uma condição que não sei se a lei vai contemplar.
Alguém me pode esclarecer?... alguém sabe se a lei vai ter efeitos retroactivos?... há alguns que estão tão interessados em abortar que eu achava que se a lei tivesse efeitos retroactivos eles podiam escolher para si aquilo que os pais por causa da lei ser tão má não fizeram para eles... acho que todos nós do SIM deveríamos ter esse direito... querer que a lei tivesse efeitos retroactivos para nos podermos abortar a nós próprios e assim não ter que aguentar estes miseráveis do não que Não nos querem dar esse direito...
Aborto SIM... e com retroacção... digam lá os do SIM que Não!
Miguel
magisteradest@gmail.com

11:49 AM  
Blogger Pedro Sá said...

Aqui vai o comentário ao comentário:

1. Como é óbvio, problemas físicos são assuntos de relevância para o Estado, e problemas psíquicos não.

2. Pois fico a saber que há pessoas que acham que ter ou não ter filhos é uma desigualdade social...
E não, não tem efeitos sobre terceiras pessoas. Basta ir ver ao Código Civil quando é que é atribuída a personalidade jurídica.

3. Era o que mais faltava cada pessoa não ser responsável pelos seus actos e a culpa ser sempre de terceiros ou "da sociedade".

6. Errado. Esta é pura e simplesmente uma questão de Direito Penal. Querer levar a conversa para o que é vida ou não é não passa de querer tapar o sol com a peneira.

8. Um ilícito sê-lo e não dar lugar a punição é pura e simplesmente ridículo. Para além disso manteria tudo na mesma porque quem procedesse à operação técnica continuaria a ser penalizado. Ou custa assim tanto a perceber ?

9. Pode perceber de bibliotecas, mas de Direito já vi que não sabe.

10. Uma cláusula que despenalize a grávida mantendo a punição para os restantes agentes do aborto significa continuar a manter o flagelo social do aborto clandestino.

11. Mais uma razão para votar sim.

13. É, pois, que não é nada difícil ver o que está por trás desse eufemismo. Só não vê quem não quer.

14. Certamente que não é.

16. Seja lá como for, quem de direito decidiu.

18. Todos os argumentos do "não" são falsos e fracos, porque a verdade é só uma. "Tenho de votar não porque é o que a igreja diz".

20. O que escrevi não tem a ver com a IVG em particular, mas com um comentário mais genérico que Jorge Miranda faz e que refere essas coisas.

12:52 AM  
Anonymous Anonymous said...

www.abort73.com/HTML/I-case.html

Aqui acaba a apatia da ignorância e começa a responsabilidade.

"Chegámos a um ponto tal que até o óbvio precisa ser explicado" Orson Welles

5:52 AM  
Anonymous Anonymous said...

Citando Pedro Sá
"8.(...) a protecção da maternidade e paternidade que existe é a possível dentro dos recursos disponíveis, e não pode ser superior." Decididamente que perante um cenário de declínio populacional a promoção da natalidade terá que se assumir perante uma prioridade nacional. Esta resignação em nada se coaduna com a atitude pró-activa que se exige aos políticos. Esta questão, assume, quanto a mim uma maior importância que o referendo do dia 11, porquanto pela disputa argumentativa, é apenas usado como acessório e não como base de uma sincera reivindicação social.

2:51 PM  
Anonymous Anonymous said...

Quanto ao ponto 16, devo recordar que passou no TC pela margem mínima, 7 contra 6. A única coisa julgada pela constitucionalidade foi a pergunta a referendar, não a lei que daí resultar. Existe pelo menos outro artigo na Constitução, o 13º, que esta questão não parece contemplar: IGUALDADE! Ou seja, é realmente a mulher que está grávida... Grávida de um FILHO de DUAS PESSOAS, não apenas dela. A questão não contempla o direito do pai desse filho.
Cumprimentos, e votem bem.
Nuno Ferreira
http://nuno.net

7:09 AM  

Post a Comment

<< Home